terça-feira, 29 de abril de 2008

Petição pela Linha do Tua VIVA


Como tenho mostrado pelas fotografias recentes neste Blog, a Linha do Tua é um dos locais mais bonitos de se percorrer no Nordeste Trasmontano. A par disso, é uma importante obra de engenharia feita por aqueles que acreditaram que os que cá viviam, também tinham direitos. Para algumas aldeias ao longo da linha é ainda o meio de transporte mais prático e económico.
Os movimentos a favor da manutenção da linha (contra a barragem), são muitas vezes acusados de nem saberem onde fica o Tua, de serem estrangeiros. Os que vivemos aqui, e que queremos continuar a viver, também somos capazes de imaginar outro tipo de desenvolvimento, sem destruição do nosso património e sem esvaziamento da região de quase tudo o que foi conquistando com muito esforço. Apregoa-se o desenvolvimento à custa da desertificação, do encerramento, da entrega das poucas coisas valiosas que temos aos grandes interesses económicos.
Os próprios autarcas estão "tão convencidos" das vantagens da construção da barragem, que na reunião que tiveram em Carrazeda de Ansiães a meados de Abril, quando pensavam discutir as contrapartidas a pedir, decidiram criar uma comissão para o estudo do desenvolvimento da região, aceitando como possível a manutenção da Linha do Tua como factor de potencial desenvolvimento.
Aconselho a leitura da Petição pela Linha do Tua neste endereço, e a assinarem-na, como forma de empenhamento na defesa de um património que é nosso, mas que queremos deixar às gerações futuras.

Mais informação aqui:
http://www.alinhadotua.com
http://www.linhadotua.net

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Na linha do Tua


Hoje foi o dia de partir "À Descoberta" de mais um troço da Linha do Tua. Dia 25 de Abril, dia da liberdade e não há melhor local para eu me sentir livre do que em contacto com a Natureza, longe do barulho, longe da pressão, longe de tudo o que torna o nosso dia a dia num círculo viciado.
Depois de percorrer, a pé, a 1.ªetapa entre Cachão e Ribeirinha e a 2.ªetapa entre a Brunheda e a Ribeirinha, pretendia continuar em direcção ao Tua, mas o acidente que aconteceu na linha, com a Dresin, no dia 10 de Abril, tem dificultado os meus planos.

A minha ideia inicial, era percorrer, a pé, a parte da linha que tem grandes hipóteses de ser trocada por contrapartidas com a EDP, mas depois pensei: porque não percorrer os 54 quilómetros que vão desde Foz-Tua a Mirandela? Como as automotoras continuam a fazer o percurso Brunheda Mirandela, mantendo os mesmos horários, planeei a 3.ª etapa, Cachão Mirandela.

Estudei os horários, o trajecto, consultei mapas e fotografias aéreas na Internet. A caminhada seria do Cachão a Mirandela. Iria de carro até ao Cachão; seguiria pela linha até Mirandela; apanharia a automotora de volta ao Cachão e regressaria a casa. Em termos de horários, já sei que tenho de somar bastantes mais horas do que aquelas que são necessárias para fazer o caminho. O objectivo era tirar fotografias e não fazer o percurso o mais rápido possível.

Às onze horas estava no Cachão. O céu estava limpo e o sol escaldante. Carregava o almoço, bastante água e, claro está, o material fotográfico necessário. A estação do Cachão está muito bem cuidada. Foi pintada recentemente e a área circundante está limpa. Até tem um horário dos comboios colado na porta (que ainda tem vidros!). A poucos metros de distância há alguns armazéns, estes sim destruídos. Um deles tem um bonito gradeamento em ferro, mesmo a pedir algumas fotografias a preto e branco.

Segui viagem, pela linha, mas sempre atento a qualquer possibilidade de descer até ao rio, que tem um grande caudal, fruto das “águas mil” de Abril. Neste percurso entre Cachão e Mirandela, a linha e o rio parecem de costas voltadas, chegam mesmo a separar-se, como acontece em Frechas.

A diferença de cota entre os dois é muitas vezes pequena, o que não permite ver o rio da linha. Ao longo de todo o percurso o rio corre mais manso do que para jusante, sempre ladeado de duas luxuriantes linhas de árvores, uma em cada margem, que dificultam a visão. De onde em onde resistem grandes açudes, acompanhados das ruínas das respectivas azenhas. Mesmo sem se verem, os açudes adivinham-se, pelo barulho que a água faz quando as transpõe.
No espaço em que a linha segue paralelamente à estrada N213 há dois açudes. Recordo-me comer uns peixinhos fritos, há mais de 20 anos atrás, na única casa que há perto do segundo açude! Depois a linha e a estrada separam-se só voltando a juntar-se perto da estação de Frechas.

A vegetação em volta, solicitava mais e mais fotografias. As papoilas vermelhas saltavam da verdura lembrando-me os cravos de Abril. Mais modestas mas não menos bonitas surgiam tufos de outras flores despertando a minha sensibilidade e o meu conhecimento: miosótis (Myosotis arvensis), borragem (Borago officinalis), erva das sete sangrias (Lithospermum diffusum), viperina (Echium tuberculatum), estevas, (Cistus ladaniferus), arçãs (Lavandula stoechas), jacinto das searas (Muscari comosum), roas (Rosa canina), muitas crucíferas e giestas. Quanto mais tempo se perde olhando com calma, mais variedade de vida se descobre.

Levei algumas horas a chegar a Frechas! Exposta ao sol, parecia adormecida no perfume das flores, aquecida pelo sol. Ao passar sobre a Ribeira da Carvalha, apeteceu-me molhar os pés, refrescar a cara, mas ainda havia muito caminho a percorrer. Atravessei o pequeno túnel sob a estrada nacional e preparei-me para admirar o rio. É neste ponto que da linha se avista melhor o rio. Lá ao fundo, onde o rio se esconde no cachão, os cumes do Faro e da Senhora da Assunção parecem vigiar os meus passos. Que felizes que são, tem hipótese de desfrutar desta paisagem dia após dia!

Consultei a minha cábula com os horários. Dali a pouco passou a automotora em direcção a Mirandela, onde chegaria perto das duas da tarde.
Andei mais um pouco e apanhei um valente susto. Numa quinta, muito bonita que existe na encosta apareceu mais de uma dúzia de cães gigantescos. Felizmente só um avançou para a linha. Não se sentindo apoiado, desistiu e eu pude continuar. A partir deste ponto, é onde a linha está em pior estado. As travessas estão velhas, mal apoiadas e a linha está invadida por ervas daninhas. Está assim até Mirandela. Andam algumas máquinas a enterrar ao lado da linha estruturas para fibra óptica. Penso que depois a linha sofrerá uma intervenção, colocando este troço ao nível da que já existe desde o Tua até Frechas.

No apeadeiro Latadas parei. Aproveitei para saborear o “almoço” já muitas vezes desejado, sentado num tufo de erva, à beira-rio.
Recuperado do cansaço, retornei a marcha. De novo a linha se afasta da estrada N213, só voltando a encontrar-se já em Mirandela.

Depois de algumas curvas, a vista alarga-se. Surgem campos povoados de flores espontâneas de todas as cores. Apeteceu-me deixar a linha e explorar o espaço circundante. Estava na Quinta do Choupim.
Pouco depois surgiram campos cultivados de ambos os lados da linha. Hortas, vinhas, olivais, pomares, mas também boas terras onde se plantavam batatas.
As primeiras casas de Mirandela já se viam ao longe. Acelerei o passo. A automotora partiria para o Tua às 16:14 e eu tinha pouco tempo para chegar à estação. Quando cheguei à Ponte do Açude convenci-me que poderia chegar a tempo.

Nos últimos metros há um carreiro que acompanha a linha e um bonito jardim entre o carreiro e o rio. A paisagem é deslumbrante, seria um óptimo lugar para merendar.
Cheguei à estação a dois minutos da automotora partir. Só tive tempo de limpar o suor e beber um pouco de água. Ainda chegou um grupo de 6 pessoas que desistiram da viagem quando souberam que não poderiam fazer o percurso até ao Foz-Tua pela linha.

Tirei o bilhete até Frechas e coloquei-me junto ao maquinista, apreciando a linha e trocando algumas palavras. Soube que seguiriam onze passageiros, de táxi, da Brunheda para o Tua. Também soube que a linha está completamente recuperada, mas ainda não foi ainda dada autorização para retomar a circulação da automotora no percurso completo.
Apeei-me em Frechas com uma intenção: dar um passeio pela beira-rio admirando a bonita praia fluvial.

Da estação segui, imagine-se, para a Rua da Liberdade. Desci a Rua dos Combatentes em direcção ao rio. Alguns caminhos estavam intransitáveis devido ao caudal do rio e tive que saltar algumas paredes para chegar à praia fluvial. Havia bastantes pessoas espalhadas ao longo do rio. Algumas mulheres lavavam roupa, outros descansavam, brincavam ou pescavam. Subi às ruínas da azenha à procura de melhores ângulos mas o brilho do sol reflectido na água ofuscava a câmara.

Segui em direcção a jusante e depois meti por um caminho em direcção à linha. Esperava-me mais um último esforço até chegar ao Cachão. O sol baixo, queimava-me a cara e dava colorações macias nas zonas translúcidas das flores e folhas. Não sei quanto tempo demorei. Cheguei à estação em simultâneo com a automotora que saiu da Mirandela às 18:13.

Percorri à volta de 18 quilómetros, a pé e tirei 814 fotografias. A selecção de meia dúzia para ilustrar esta minha aventura, é uma tarefa difícil. As fotografias ficam guardadas, mas os locais estão lá, cheios de luz e cor, à espera de serem visitados.
Ligação para a 1.ªetapa entre Cachão e Ribeirinha
Ligação para a 2.ªetapa entre a Brunheda e a Ribeirinha

Texto e fotografias de Aníbal Gonçalves

sexta-feira, 4 de abril de 2008

A Primavera chegou

O calor na Terra Quente já se fez sentir nos últimos dias. Junto ao tua apetece sentar um pouco a observar o azul das águas e ouvir os pássaros, muito activos nesta época do ano. São muitos os que procuram o bar junto ao rio para beberem uma bebida fresca, em contacto com a Natureza.
Obrigado por teres visitado o meu blogue e volta sempre.