quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Panoramica do Tua


"O sol começava a espreitar sobre a linha pouco alta dos cabeços distantes e enviava raios, matinais, que se enfiavam entre as faias da beira esquerda, reflectindo-se nas águas sossegadas da represa, e lhes desenhavam os perfis esguios, que se atravessavam até ao lado de lá, como sucessivas pontes de sombra. As faias e salgueiros da margem direita, iluminados em cheio , espelhavam a sua alta verdura na toalha líquida, que lhes reproduzia a imagem recortada de pequenos abalos, pelo tremular levíssimo da corrente.
Da banda de cima, fechava o quadro uma ponte bucólica, com gracioso arco, por sobre o qual se lobrigava, ao fundo, a enorme roda de pás, que uma corrente provocada num caneiro, impelia a fazia levar a água lá acima, a uma terra campeira, simultâneamente; e lá se via a caleira de zinco, apoiada em rodrigas, espetadas em gancha pela leira fora, por onde corria a água ao tanque de rega.
No meio do rio, mesmo no meiinho, eleva-se uma pitoresca ilha, formada de duas fragas sempre humedecidas e guarnecidas de heras e musgos viçosos, dando pedestal a um salgueiro altivo!
Lindo, lindo, este panorama do Tua!"

Cabral Adão, "Paisagens do Norte", 1954.

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